Por: Luiz Fernando Ramos Aguiar

A escuridão da noite parece ter sido apagada pela tecnologia. A luz azul das telas se tornou o refúgio daqueles que enfrentavam a solidão e, na escuridão das madrugadas, a angústia mais inevitável de todo ser humano: a certeza inescapável da morte.

O encontro derradeiro com a eternidade, aquela que deveria ser a esperança de qualquer cristão, muitas vezes é o temor, o terror, de quem professa a fé com os lábios, mas no coração vive debaixo da constante, incerta e inevitável finitude da existência.

Entretido com a quantidade infinita de todo tipo de conteúdo inútil e vazio, o cristão moderno acaba se distanciando da esperança do evangelho na vida eterna, afogado em um mar de bobagens. Vaidades sequer imaginadas por Salomão, distrações que podem manter o espírito do homem completamente distante de seu alvo mais importante, enquanto se diverte vendo um gato cair de uma estante ou uma prensa esmagando confeitos de chocolate.

Mais inevitável que o dia derradeiro de cada criatura vivente é o momento em que a consciência empurra o homem com o perturbador pensamento de que seu fim é apenas uma questão de tempo.

Com a mente cotidianamente ocupada, hipnotizado por suas telas mágicas, o espaço que sobra para nossas consciências, e para a ação do Espírito Santo, são as madrugadas. Quando a mente descansa dos sufocantes estímulos das redes sociais, do trabalho, da rotina e dos problemas que julgamos reais (como pagar boletos), a madrugada torna-se o momento perfeito para sermos lembrados de que existe uma realidade muito mais profunda, ignorada de forma culposa ou dolosa, quando, diariamente, nos enterramos nessa cultura do entretenimento, da busca incessante de informações e da conexão virtual.

Quando o silêncio alcança nossa mente, o espírito desperta e se inquieta diante da postura leniente com a verdade do evangelho, da negligência diante do pecado, da morosidade na busca pela santidade e do cultivo do pecado como forma de satisfação dos impulsos mais básicos ou, no melhor dos casos, dos mais inúteis e dispensáveis.

Não que manifestemos comportamentos essencialmente maus, cruéis ou depravados. Contudo, a simples opção de ignorar o pensamento sobre o dia final já é suficiente para nos afastar do verdadeiro caminho. Um comportamento que nos impede de tomar nossa cruz, de seguir pelo caminho estreito e que gera uma vida de autogratificação e superficialidade.

Nesse cenário, o único momento em que de alguma forma estamos disponíveis para o agir de Deus é durante as madrugadas. Depois que as telas se apagam, o Senhor, em sua infinita graça e misericórdia, permite que a consciência desperte e nos lembre de nosso destino final. O problema é que, quanto mais longe estamos do verdadeiro caminho, mais aterrorizante será essa experiência.

Despertos por uma injeção de adrenalina, o coração bate como se fosse estourar, as mãos tremem e, finalmente, a alma busca refúgio naquele que é o único capaz de oferecer alguma esperança diante do extermínio final de nossa existência.

Mesmo um mero vislumbre do conceito da eternidade, nesse momento, se transforma em uma fonte pura de agonia e desespero para uma mente que sequer pode compreender a profundidade e a dimensão desse conceito.

Na escuridão e no silêncio da madrugada não sobra espaço para distrações, diversão ou entretenimento. O medo do destino incerto da inexistência, da segunda morte, da perenidade infinita do juízo não deixa outra opção senão reconhecer a misericórdia do Senhor Jesus.

Infelizmente, também estou sujeito a essa realidade. Em um desses momentos, estava tão absorvido no mundo digital que não consegui encontrar minha Bíblia de papel. Ao mesmo tempo, não queria recorrer aos expedientes tecnológicos para não me perder, mais uma vez, nas distrações do mundo virtual.

E não é que a tecnologia seja ruim, ao contrário. Foi por meio da internet que consegui ter acesso a uma quantidade incalculável de material teológico que, por outros meios, só poderia ser assimilado com muitos anos de estudo e milhares de reais gastos em livros. Sem contar as inúmeras canções de louvor que só puderam ser resgatadas pelas pesquisas em plataformas de streaming.

Mas é inegável que toda essa avalanche de informações, boas e ruins, com frequência nos dispersa daquilo que realmente importa. Iludidos pela sensação de que estamos nos desenvolvendo pelo acúmulo de conhecimento, muitas vezes inútil, acabamos nos distanciando de um relacionamento real com Deus. Um relacionamento que precisa ser construído em alicerces de oração, de comunhão e de mudança de comportamento.

Mesmo que as noites de insônia sejam terríveis, espero que o Senhor não se esqueça da minha alma e que, enquanto eu não consigo caminhar verdadeiramente em sua presença, ele continue me acordando. Despertando meu espírito, minha alma e minha mente para buscá-lo enquanto há tempo. Pois chegará o dia inevitável em que esse recurso não estará mais disponível. E, nesse momento, o tormento, o medo e o desespero serão mais intensos e inevitáveis do que em qualquer outro já experimentado.

Que Deus tenha misericórdia da minha alma, conserte meu coração e, através de sua graça infinita, possa reconstruir o espírito de um filho que está seduzido, hipnotizado, mas sabe que precisa de restauração para encontrar a paz que excede todo entendimento.

Afinal, para o verdadeiro cristão, a morte não pode ser sinônimo de medo, mas de esperança na vida aos pés do Senhor. E a eternidade não pode se tornar um tormento incompreensível, mas a certeza de uma existência glorificada, do propósito final dessa vida passageira que, em si mesma, não tem objetivo nem propósito.

Admitir o medo e reconhecer as limitações pode parecer falta de fé, e talvez seja. Mas admitir nossas fraquezas e limitações pode ser o primeiro passo para superá-las. E a maior esperança é vencer essa batalha.