CONSERVADOR BOM É CONSERVADOR MORTO? A NOVA FACE DA VIOLÊNCIA POLÍTICA DISFARÇADA DE TOLERÂNCIA

Por: Luiz Fernando Ramos Aguiar
Tenente Coronel RR e Especialista em Segurança Pública

O recente assassinato do ativista conservador Charlie Kirk colocou em evidência um fenômeno criminal absurdo: o assassinato de influenciadores, políticos e líderes populares, principalmente com posicionamento conservador ou à direita. Trata-se de uma manifestação de violência política que não está circunscrita a uma região ou país específico e que pode estar se tornando uma tendência mundial.

Esse fenômeno pode representar uma expressão de algo ainda mais perigoso. Forças políticas tradicionais, ameaçadas pelo crescente descontentamento popular, já não conseguem mais manter sua relevância por meios legítimos e democráticos. Sem força moral, sem apoio nas urnas e sem controle narrativo sobre a opinião pública, recorrem à solução mais extrema e covarde: a eliminação física de seus opositores como forma de vencer disputas ideológicas, políticas e eleitorais.

Traçar uma linha do tempo desse tipo de atentado, mostrando como esse tipo de crime está concentrado em políticos e líderes de tendência conservadora, é fundamental para determinar as forças políticas envolvidas na disseminação dessa mentalidade. Identificar as pessoas e instituições que propagam os discursos que favorecem a radicalização e o uso da violência como forma de expressão política é um passo imprescindível para neutralizar essa estratégia mórbida e restaurar o debate público de ideias de forma civilizada e livre, que é o fundamento das democracias modernas e pilar para a proteção dos direitos humanos.

BRASIL – O ATENTADO A JAIR BOLSONARO (2018)

Infelizmente, o Brasil não está protegido dessa estratégia. Ao contrário, a tentativa de assassinato do ex-presidente Jair Bolsonaro, ocorrida em setembro de 2018, na cidade de Juiz de Fora, durante sua campanha à Presidência da República, foi uma das ações pioneiras na eliminação de lideranças conservadoras com o objetivo de evitar sua ascensão a cargos de destaque.

Enquanto era carregado por apoiadores durante um ato da campanha eleitoral, ele foi esfaqueado no abdome. Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos na época do atentado, foi preso em flagrante. O criminoso confessou o crime e, após uma investigação controversa, acabou sendo considerado um lobo solitário, que sofria de desordens mentais. Mesmo com evidências importantes que poderiam indicar que o criminoso agiu com apoio de outras pessoas, como a presença imediata de quatro renomados advogados para sua defesa, Adélio acabou sendo considerado inimputável e passou a cumprir pena em um manicômio judicial. O financiamento de seus advogados, as dúvidas sobre sua alegada insanidade mental e as possíveis ligações do crime com o Primeiro Comando da Capital (PCC) nunca foram totalmente esclarecidos, e a versão da ação isolada de um doente mental acabou sendo o desfecho oficial do atentado.¹

JAPÃO – ASSASSINATO DE SHINZO ABE (2022)

Membro do Partido Liberal Democrata (PLD), principal partido de centro-direita do Japão, Shinzo Abe era defensor dos valores tradicionais japoneses, do fortalecimento da família e defendia revisões na Constituição pacifista do pós-guerra para que o país tivesse maior capacidade militar. Pró-Ocidente e alinhado com os Estados Unidos, defendia maior participação do Japão na política internacional, inclusive militarmente, como contrapeso à influência da China e da Coreia do Norte. Era crítico das políticas progressistas, da atuação de sindicatos e de grupos de esquerda que, em sua opinião, enfraqueciam a competitividade do país e a coesão nacional.

Shinzo foi assassinado em julho de 2022, enquanto realizava um discurso na cidade de Nara, região central do Japão. Ele foi baleado por Tetsuya Yamagami, de 41 anos na época, que utilizou uma arma artesanal para realizar o atentado. Reportagens da imprensa japonesa indicaram que o criminoso era ex-integrante da Força de Autodefesa Marítima do Japão, a Marinha japonesa. O mais chocante desse atentado foi o uso de arma de fogo, já que incidentes desse tipo são extremamente raros no país.²

EQUADOR – FERNANDO VILLAVICENCIO (2023)

Mesmo políticos que não são abertamente vinculados à direita foram vítimas de atentados, como foi o caso de Fernando Villavicencio. Mesmo considerado um político de centro, ele adotava uma postura firme contra o populismo autoritário de esquerda que, no Equador, era personificado por Rafael Correa, de quem era opositor ferrenho. Ele era vinculado ao partido Movimiento Construye, originalmente de centro-esquerda. Jornalista investigativo e ex-sindicalista da Petroecuador, ficou conhecido por denunciar contratos irregulares, enriquecimento ilícito de autoridades e esquemas de corrupção nos governos de Rafael Correa.

O assassinato ocorreu no dia 10 de agosto de 2023, durante um evento de campanha. De acordo com a mídia equatoriana, foram disparados mais de 30 tiros durante o atentado, ocorrido na capital do país, Quito. Até mesmo uma granada foi utilizada no ataque, mas não chegou a ser detonada e precisou ser desativada de forma controlada pela polícia. Na época, o Movimiento Construye afirmou, por meio do X (antigo Twitter), que homens armados também atacaram seus escritórios na capital, em ações separadas. O partido já havia considerado suspender a campanha devido à violência política no país. Villavicencio foi contra e afirmou:

“ficar em silêncio e se esconder em momentos em que criminosos assassinam cidadãos e autoridades é um ato de covardia.”³

ALEMANHA -MICHAEL STURZENBERGER (2024)

No dia 31 de maio de 2024, em Mannheim, Baden‑Württemberg, Alemanha, durante um evento promovido pelo grupo Pax Europa, um homem identificado como Sulaiman A., de origem afegã, usou uma faca de caça para atacar diversas pessoas. O alvo principal do criminoso era o ativista Michael Stürzenberger, crítico da influência islâmica resultante da imigração descontrolada na Europa, que acabou sucumbindo aos ferimentos sofridos durante o atentado. Um policial, que tentou neutralizar o Sulaiman, acabou sendo esfaqueado no pescoço e acabou falecendo. ⁴

O autor do atentado foi atingido pela polícia e acabou preso. As autoridades alemãs classificaram o crime como provavelmente motivado por extremismo islâmico, mas o agressor não foi acusado formalmente de terrorismo. Contudo, foi condenado à prisão perpétua pela morte do policial e pelo ferimento de outras cinco pessoas.

Michael Stürzenberger foi atingido várias vezes com golpes de faca no rosto, no tórax e na perna. Precisou ser submetido a uma cirurgia de emergência, sendo gravemente ferido. Por sorte, sobreviveu ao atentado, mesmo tendo perdido uma quantidade considerável de sangue.

ESTADOS UNIDOS – DONALD TRUMP (2024)

Em 13 de julho de 2024, o então ex-presidente e candidato à eleição presidencial, Donald Trump, foi baleado e ferido na orelha enquanto discursava em um comício como parte de sua campanha eleitoral, na cidade de Butler, Pensilvânia. Thomas Matthew, de 20 anos, disparou oito vezes com um fuzil AR-15 do telhado de um prédio nas proximidades do evento. Uma das pessoas da plateia, o bombeiro Corey Comperatore, foi morto, e outras duas ficaram gravemente feridas. ⁵

Trump foi levado a um hospital, tratado e liberado no mesmo dia. Dois dias depois, fez sua primeira aparição pública após o atentado, durante a Convenção Nacional Republicana de 2024, em Milwaukee, Wisconsin. Ele usava um curativo na orelha. ⁶

O incidente se tornou a falha de segurança mais grave do Serviço Secreto americano desde o atentado contra o presidente Ronald Reagan, em 1981.⁷ O episódio resultou na renúncia da diretora do Serviço Secreto, Kimberly Cheatle, após pressões bipartidárias no Senado durante seu depoimento ao Comitê de Supervisão e Responsabilidade do Congresso.⁸ O presidente Joe Biden ordenou uma revisão independente dos protocolos de segurança. Os congressistas exigiram melhorias na proteção dos principais candidatos à eleição presidencial, e o Serviço Secreto aprimorou suas medidas, incluindo o uso de vidros blindados em comícios realizados em ambientes abertos.⁹

ESTADOS UNIDOS – DONALD TRUMP II (2024)

Apenas dois meses após o atentado em Butler, no dia 15 de setembro de 2024, Trump é vítima de mais uma tentativa de assassinato, enquanto jogava golfe no Trump International Golf Club, na Florida. Um homem identificado posteriormente como Ryan Wesley Routh, de 58 anos, foi visto escondido em arbustos enquanto apontava um rifle para um dos componentes da segurança de Trump. Um membro do Serviço Secreto atirou no suspeito que fugiu do local, mas acabou sendo capturado no Condado de Martin.¹⁰

COLOMBIA – MIGUEL URIBE (2025)

Político conservador colombiano, Miguel Uribe era senador e pré-candidato à eleição presidencial colombiana de 2026. Ele foi baleado pelas costas em 7 de junho de 2025, enquanto realizava um comício no Parque El Golfito, em Bogotá. Foi levado ao hospital em estado crítico e acabou falecendo dois meses depois, no dia 11 de agosto.¹¹

Um adolescente foi preso no local. O jovem, de 15 anos, foi acusado de tentativa de homicídio e porte ilegal de arma de fogo. Alegou que teria praticado o atentado em razão de um pagamento efetuado por um traficante de drogas. ¹²

Cerca de um mês após o atentado, a polícia anunciou a prisão do homem acusado de ser o mentor intelectual do crime: José Arteaga Hernández, conhecido como Chipi ou Costeño.¹³ Até o momento, ainda não foram oficialmente esclarecidas as motivações para o atentado.

Uribe tinha tradição na política colombiana, sendo neto de Julio César Turbay Ayala, que foi presidente da Colômbia. Sua mãe era a jornalista Diana Turbay, sequestrada pelo Cartel de Medellín em 1990 e morta durante uma tentativa de resgate. ¹⁴

ESTADOS UNIDO – CHARLIE KIRK (2025)

Mas com certeza o caso mais emblemático ocorrido nos últimos tempos foi a execução do fundador do grupo Turning Point USA (TPUSA). Influenciador conservador, apoiador de Donald Trump e famoso por promover debates públicos em campus universitários, ele foi covardemente executado na frente de sua família enquanto discursava em evento na Universidade de Utah Valley (UVU), no dia 10 de setembro de 2025.

O evento foi organizado pela filial da Turning Point USA da universidade e contava com a presença de aproximadamente 3.000 pessoas. O assassinato foi registrado em vídeo e presenciado pela plateia, gerando imensa indignação e revolta. O governador de Utah, Spencer Cox, classificou o tiroteio como “assassinato político”. O presidente Trump anunciou a morte de Kirk nas redes sociais e decretou que todas as bandeiras do país fossem hasteadas a meio-mastro em homenagem ao líder conservador de apenas 31 anos.¹⁵

O acusado pelo crime é o jovem Tyler James Robinson, de 22 anos. Ele foi preso sob a acusação de homicídio qualificado, que no estado de Utah pode resultar em pena de morte em caso de condenação. Apesar de ter sido criado em uma família conservadora, o jovem acabou se radicalizando, como afirmaram amigos que o descreveram como alguém influenciado pelos cantos mais sombrios da internet.

O parceiro de Robinson é transgênero, e alguns políticos apontaram isso como um possível motivo para que ele estivesse mirando Kirk por suas opiniões sobre o tema. Mas, de acordo com os investigadores, isso não teria relevância para o caso. Segundo o governador Cox, o parceiro de Robinson tem sido “incrivelmente cooperativo” e “não fazia ideia de que isso estava acontecendo”.¹⁶

Uma das faces mais repugnantes desse crime foram as comemorações de adversários políticos e pessoas de esquerda sobre a morte de Kirk. No Brasil, o historiador Eduardo Bueno, conhecido como Peninha, comemorou o assassinato dizendo que é sempre ruim quando um ativista é morto por suas ideias, menos quando esse ativista é Charlie Kirk. Sua insensibilidade e morbidez chegaram ao absurdo de afirmar que seria melhor, para os filhos de Kirk, crescerem sem a presença do pai, que, em sua visão, seria uma influência terrível para as crianças.

Esse tipo de atitude se espalhou pela internet, tornando o enfrentamento ideológico ainda mais acirrado e violento e deixando de lado a questão verdadeiramente importante: como chegamos ao ponto em que uma pessoa é assassinada apenas por expor suas ideias e conversar com outras pessoas? Os mesmos influenciadores e internautas que arrotam sinalizações de virtude na defesa da tolerância e da diversidade regurgitam as mais repulsivas manifestações de ódio, intolerância e desprezo pela vida humana. Apenas pelo fato de Charlie Kirk pensar diferente deles.

TEMPOS SOMBRIOS

A série de mortes e atentados direcionados a personalidades conservadoras, mesmo as mais moderadas, é um sinal claro de que vivemos um tempo em que todo um espectro político está sendo empurrado para fora do debate público. Mas não pelo convencimento ou pela conquista de corações e mentes, e sim pela violência, pela censura e pelo massacre midiático e físico.

Se analisarmos todos os casos apresentados aqui, vamos conseguir apontar vários pontos em comum entre as vítimas. Primeiro, todos tinham uma opinião divergente dos meios de comunicação tradicionais, da chamada velha mídia. Outro aspecto que eles têm em comum é que, cada um a seu modo, se tornou uma pedra no sapato das forças políticas tradicionais, aumentando sua influência popular mesmo sob constante ataque de intelectuais e da mídia, que os classificam como extremistas, xenófobos, preconceituosos e proponentes de um discurso de ódio.

Todos eles também mantinham um discurso firme contra o crime e defendiam a punição adequada e rigorosa para criminosos. Além disso, de forma geral, são defensores dos valores basilares e tradicionais de suas sociedades, com posicionamentos positivos em relação à identidade nacional e à proteção da cultura local de suas nações. Todos esses posicionamentos são, de maneira geral, ignorados, desprezados ou combatidos pelas organizações políticas e líderes de esquerda, e reverberados pelas empresas de mídia tradicionais e suas redações enfestadas de militantes travestidos de jornalistas. Mas como o poder desses grupos foi completamente fragmentado pela informação descentralizada e distribuída na internet, eles não conseguem mais manter a hegemonia das narrativas, e a opinião pública está cada vez mais hostil aos posicionamentos progressistas.

A reação não foi uma reestruturação dos princípios e do discurso da esquerda, mas a radicalização da oposição que feita, fundamentalmente, pela desumanização do adversário. A maioria desses líderes e ativistas sequer são chamados por seus nomes em manchetes ou reportagens, são sempre precedidos de adjetivos como extremistas, nazistas, racistas, fascistas, machistas ou qualquer outra qualificação que os coloquem na prateleira de inimigos da humanidade. O resultado não poderia ser diferente, ativistas fanatizados, que confundem a suas posições politicas com suas identidades pessoais e enxergam qualquer divergência de opinião como um ataque pessoal. Criando uma histeria coletiva nas fileiras da esquerda que levam as mentes mais fracas a atos extremos, afinal se o alvo é um monstro, eliminá-lo não é um ato tão ruim assim.

Dessa forma, a tolerância, a diversidade e a liberdade de opinião se tornam apenas jargões aplicados exclusivamente àqueles que compartilham da mesma visão de mundo. Afinal, se o meu adversário é considerado um inimigo da humanidade, qual o problema em eliminá-lo? Ou, pior ainda, qual o problema em comemorar a erradicação dessa monstruosidade, quando alguém o faz?

Por isso apelar para humanidade das pessoas conservadoras ou de direita não tem nenhum impacto sobre a mentalidade esquerdista. Pelo simples fato de que, muitos deles, não nos consideram humanos.

Os ataques a tantas personalidades conservadoras já nos davam um vislumbre desse quadro, mas a morte de Charlie Kirk tirou a máscara daqueles que fingiam nos tolerar. Finalmente, tiveram a coragem de celebrar e mostrar o que realmente sentem e pensam. Conservador bom é conservador morto, de preferência, de forma violenta e na frente dos filhos, para que sirva de exemplo para os outros. Tempos sombrios, que dão sinais de que ainda irão durar por muito tempo.