Por: Luiz Fernando Ramos Aguiar Tenente Coronel RR da PMDF e especialista em Segurança Pública

A tentativa da deputada do PSOL, Talíria Petrone, de proibir o uso de helicópteros e drones para o combate ao crime organizado em operações policiais 1 evidencia a canalhice esquerdista crônica nas questões relacionadas à segurança pública. Sob o argumento de proteger as populações de bairros mais pobres dos prejuízos causados por operações policiais, a deputada propõe uma medida que impediria a proteção dos policiais que atuam nas comunidades, favoreceria a hegemonia das facções e milícias nos territórios dominados e seria mais um fator para a consolidação do domínio do crime sobre as populações mais pobres e vulneráveis.

Deputada Talíria Petrone (PSOL)

Não é possível que uma proposta dessa natureza seja fruto apenas de um quadro terminal de ignorância criminosa. Esse tipo de ação levanta questões sobre a verdadeira natureza da agenda de partidos como o PSOL, que, sempre que têm oportunidade, se posicionam contra os interesses da população, com medidas que favorecem diretamente organizações criminosas que já impõem seu império de terror sobre aproximadamente 23 milhões de brasileiros.2

O CUSTO DO CRIME

De acordo com os argumentos apresentados pela deputada, um levantamento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) apontou que moradores dos complexos da Penha e do Manguinhos, no Rio de Janeiro, tiveram um prejuízo de R$ 14 milhões por ano devido a operações policiais. Para os comerciantes e prestadores de serviço, a perda teria representado 34,2% do faturamento médio anual.3 O que a deputada não menciona é o tamanho dos prejuízos que as atividades das organizações criminosas causam a toda a população do país, sejam eles moradores de comunidades ou não.

Complexo da Penha – Rio de Janeiro

Um estudo recente produzido pela CNN Brasil estimou que as facções lucraram cerca de R$ 347,8 bilhões para suas organizações apenas entre julho de 2023 e julho de 2024. Só em fraudes tributárias, foram mais de R$ 14 bilhões. Se levarmos em conta as atividades relacionadas à comercialização de combustíveis, foram mais R$ 15 bilhões, envolvendo crimes como adulteração de combustíveis, fraude volumétrica e operação de postos piratas. 4

Mas os negócios do crime organizado não se limitam mais ao narcotráfico. Em 2022, os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelaram um faturamento de cerca de R$ 146 bilhões para as organizações criminosas por meio da exploração de ouro em garimpos ilegais e do contrabando de bebidas e cigarros. Só com o furto e roubo de celulares, entre 2023 e 2024, os prejuízos giraram em torno de R$ 22,7 bilhões.5

Mas ainda é preciso computar o impacto direto da dominação territorial das facções e milícias sobre as populações. Se dentro das favelas os criminosos tentam gerar alguma sensação de benefícios para os moradores controlando de forma unilateral as decisões sobre quem vive e quem morre, o que até ajuda diminuir as taxas de homicídios dentro das comunidades. O que acontece no entorno dessas áreas revelam a verdadeira natureza e impacto dos criminosos. De acordo com estudo, Homicídios e disputas territoriais nas favelas do Rio de Janeiro,6:

seria mais perigoso morar em torno de áreas ocupadas pelos grupos ADA, TCP e CV, do que nas demais áreas afastadas de favelas dominadas por facções de traficantes ou no interior destas. Como as taxas são sempre mais altas nos arredores de favelas que no resto da cidade, elas se tornariam parte da “ecologia do perigo”.9 Os estudos etnográficos mostram que nas áreas sob tais domínios, os jovens vulneráveis são socializados pelo manejo das armas de fogo, elementos-chave da nova “cultura de rua”, criando as áreas quentes da morte prematura.11 Traficantes armados, com seus impressionantes estoques de armas e munições, apontam para o paradoxo do monopólio legítimo da violência no Brasil e a logística inquebrantável que aporta armas e munições continuamente às quadrilhas atuantes no varejo das favelas. Além de treiná-los para o combate, policiais e militares corruptos, auxiliados por contrabandistas, levam armas exclusivas das Forças Armadas brasileiras às quadrilhas de traficantes, alimentando o estado de guerra pelo controle de pontos de venda e de territórios. Estas mesmas armas vão matar policiais que fazem a repressão às atividades ilegais das quadrilhas

As favelas e comunidades, principalmente no Rio de Janeiro, se tornaram verdadeiras áreas de guerrilha, com equipamentos típicos de regiões dominadas por milícias em países em guerra civil. Em 2024, as forças de segurança retiraram mais de 7.000 toneladas de materiais utilizados em barricadas nas comunidades cariocas.7 Essas barreiras são utilizadas para retardar ou impedir o avanço das forças policiais nas regiões dominadas e manter o controle sobre as pessoas que residem na região.

Membros de facção no Rio de Janeiro

Muitas vezes, as barreiras são construídas rapidamente, impedindo que os moradores retirem seus veículos das ruas isoladas, de forma que somente após alguma operação de remoção eles recuperem o direito de usar o próprio carro. Além disso, as barreiras impedem a chegada de serviços básicos aos moradores, como a coleta de lixo ou o acesso de ambulâncias.

Caso um morador tenha a ousadia de tentar recuperar seu direito constitucional de locomoção, retirando alguma dessas estruturas, os criminosos encaram isso como uma afronta direta ao seu domínio, o que pode resultar em ameaças ou em ações diretas contra a integridade física de qualquer um que cometa o “crime” de querer tirar seu carro de uma rua bloqueada ou liberar o acesso da via para o caminhão de coleta de lixo.

PORQUE USAR HELICÓPTEROS

Mas, para entendermos toda essa questão de forma definitiva, é preciso compreender qual é a verdadeira necessidade do uso de aeronaves em operações policiais. A utilização de helicópteros nesse tipo de ação é uma prática disseminada e adotada de forma generalizada por forças policiais em todo o mundo. Ela permite que as ações policiais sejam otimizadas de várias maneiras, além de aumentar a segurança dos policiais em solo.

Helicóptero Polícia Militar do Rio de Janeiro

Uma das aplicações mais óbvias desse tipo de aeronave é sua função como plataforma de observação. Os policiais em voo têm uma visão panorâmica de áreas extensas, como favelas, rodovias, regiões de fronteira e até locais onde estejam ocorrendo manifestações populares ou distúrbios civis. Dessa forma, as informações e imagens obtidas através da observação aérea fornecem aos comandantes dados fundamentais para a aplicação eficiente dos efetivos em solo, garantindo o uso racional dos recursos operacionais e, ao mesmo tempo, maior efetividade nas operações e mais segurança para as pessoas e profissionais afetados pela dinâmica dos eventos em curso.

Os helicópteros também podem ser utilizados para o acompanhamento de criminosos em fuga, antecipação de rotas de escape de veículos durante perseguições, visualização antecipada de barricadas e monitoramento de multidões e do tráfego de veículos. Esse tipo de observação diminui os riscos durante perseguições, aumenta a efetividade na captura de criminosos e orienta abordagens mais seguras para os policiais. Além disso, as aeronaves funcionam como centros de comunicação móvel, integrando sistemas de rádio, vídeo e sensores — como câmeras térmicas — e facilitando a coordenação entre diferentes unidades envolvidas em uma operação, ou até entre corporações distintas.

Outra função é a utilização como meio de transporte tático de tropas, possibilitando o desembarque rápido de equipes em locais de difícil acesso. Isso é especialmente relevante para unidades de operações especiais, que podem ser posicionadas em pontos estratégicos para garantir que alvos específicos — como bunkers ou casas-mata das facções — sejam atingidos sem que as tropas regulares sofram baixas.

Outro uso recorrente é o patrulhamento em regiões de mata e floresta, com foco na prevenção e combate de crimes ambientais, como garimpo ilegal e queimadas. As aeronaves também são empregadas no patrulhamento de áreas de fronteira, onde seu uso é determinante para identificar rotas, veículos e pessoas envolvidas com tráfico de drogas, contrabando e descaminho.

Mas a grande oposição da esquerda recai sobre um dos usos mais importantes dessa tecnologia: a utilização dos helicópteros como plataforma de tiro. E é justamente essa a oposição mais tacanha. O apoio de fogo aéreo é fundamental para garantir o avanço das tropas policiais em bairros e comunidades dominadas por facções criminosas. Seu uso permite que atiradores localizem e neutralizem ameaças posicionadas estrategicamente para impedir a entrada ou a movimentação das forças policiais. Essa antecipação funciona como uma estratégia de dissuasão, reduzindo os confrontos diretos entre os agentes do Estado e as forças do crime.

Mais do que isso, ela garante a segurança não apenas dos policiais envolvidos na operação, mas principalmente da população civil que reside nessas regiões. E ignorar essa realidade, entre outras relacionadas a estratégias e táticas utilizadas em operações de segurança pública, é um problema grave e que é amplificado, especialmente pelas forças de esquerda do país.

ADPF 635

Em 2019, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), com apoio de entidades como a ONG Conectas Direitos Humanos, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro e a ONG Justiça Global, propôs a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 635, que ficou conhecida como ADPF das Favelas.8

Ministro Edson Fachin – Relator da APDF 635

Sob a alegação de que as operações policiais no estado violariam preceitos fundamentais como o direito à vida, a dignidade humana e a segurança das pessoas, a ADPF 635 impôs uma série de limitações à atuação das forças policiais, por meio de protocolos rígidos que exigiam, entre outras coisas, comunicação prévia ao Ministério Público. A relatoria da medida ficou sob responsabilidade do ministro Edson Fachin, e a decisão foi referendada pelo plenário do STF. A medida, que deveria ter sua validade restrita ao período da pandemia de COVID-19, acabou sendo mantida mesmo após a crise sanitária.

A ADPF restringia:

  • Proibição do uso de escolas e unidades de saúde como bases policiais.
  • Limite ao uso de helicópteros em operações, exceto em casos estritamente necessários.
  • Obrigatoriedade de preservação da cena do crime e relatórios detalhados das ações.

Como era de se esperar por qualquer pessoa com conhecimento mínimo sobre a atuação das facções, o resultado dessas limitações à atuação policial foi o fortalecimento das organizações criminosas, manifestado pela ampliação da dominação territorial das narco-milícias, como apontou o relatório do CNJ:

reporta-se que, após o advento da ADPF nº 635, houve substancial aumento do domínio territorial pelas organizações criminosas, que atualmente se apresenta sob a forma de “narco-milícias”;9

De acordo com o relatório, durante a vigência da ADPF, as organizações criminosas estruturaram e fortaleceram suas posições nas comunidades que já dominavam. O Comando Vermelho, por exemplo, expandiu seu domínio territorial invadindo várias comunidades, com destaque para a região de Jacarepaguá, Vargem Grande e Vargem Pequena. Nesses locais, foram estabelecidas barricadas e registrado o aumento de confrontos armados com as forças de segurança, o que resultou no crescimento da vitimização policial.

Outro fenômeno registrado pelo relatório foi a migração de lideranças criminosas de outros estados para o Rio de Janeiro, o que fortaleceu os vínculos entre organizações criminosas de diferentes regiões, permitindo que o Comando Vermelho consolidasse sua atuação em nível nacional.

DRONES

Apesar de a deputada do PSOL, Talíria Petrone, defender que as forças policiais não utilizem drones em suas operações, a tecnologia já é largamente usada pelas facções criminosas. Inspirados nas táticas que se popularizaram durante a guerra na Ucrânia, criminosos cariocas já utilizam drones para lançar cargas explosivas contra seus rivais. Eles adaptam equipamentos de uso civil, vendidos livremente, fazendo com que possam carregar pequenas cargas explosivas, de até 400 gramas. 10

Os primeiros sinais do uso dessa tecnologia por parte dos criminosos surgiram em 2024, quando um vídeo localizado pela polícia mostrou um drone lançando uma granada sobre membros de uma organização criminosa, no Morro do Quitungo. O embate faria parte de uma disputa entre o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro, as duas facções que atuam na região da Baixada Fluminense.

Traficantes, inspirados em táticas ucranianas, usam DRONES para lançar granadas.

Outra forma de utilização dos equipamentos pelos faccionados é o monitoramento das ações e operações policiais nas áreas dominadas pelo crime. Em janeiro deste ano, traficantes da comunidade da Serrinha, em Madureira, empregaram um drone para acompanhar a movimentação operacional dos policiais do 9º BPM, enquanto eles avançavam pela comunidade. Com o uso de equipamentos de rádio, os criminosos transmitiam informações em tempo real sobre a movimentação dos agentes para outros integrantes da quadrilha, tentando manter uma vantagem tática sobre as forças de segurança.11

CONCLUSÃO

Enquanto os criminosos ficam à vontade para utilizar qualquer tipo de tecnologia, estratégia ou tática para controlar territórios, oprimir comunidades e garantir seus impérios, as forças de segurança são cotidianamente castradas em suas capacidades operacionais para o enfrentamento ao crime organizado. O que se cristaliza é uma guerra assimétrica, na qual um dos lados pode lutar com as armas mais modernas e com as operações mais violentas, sem se importar com os danos colaterais causados. Do outro lado estão os profissionais de segurança, que lutam com as mãos amarradas e com ações controladas por pessoas que, aparentemente, torcem pela vitória dos criminosos.

Pelo menos no caso do projeto da deputada Talíria Petrone, o relator da proposta, deputado Sanderson (PL-DF), rejeitou o texto, impedindo que mais uma medida absurda fosse implementada. Ainda assim, é necessário um trabalho extremamente árduo para reverter toda uma legislação que alimenta a impunidade e favorece as operações do crime organizado.12

Medidas como a ADPF 635 demonstraram seu poder de destruição ao contribuírem com o fortalecimento das facções narcoterroristas, que hoje travam uma verdadeira guerra separatista. Atualmente, cerca de 11% da população brasileira vive em regiões dominadas por narco-milícias. Pelo menos 23 milhões de pessoas estão sob o controle direto de mais de 70 organizações criminosas em atividade no país.13

O simples ato de propor legislações que favorecem o ambiente propício ao crescimento dessas quadrilhas já deveria ser motivo suficiente para que os políticos ou autoridades responsáveis fossem execrados pela opinião pública. No entanto, esse tipo de medida, por mais absurda e contraditória que pareça, ainda é apresentada como se fosse uma defesa dos direitos humanos e da dignidade das pessoas. Na prática, o efeito é justamente o oposto: fortalece o poder das organizações criminosas e garante que os brasileiros que vivem sob seu domínio sejam, cada vez mais, oprimidos e controlados pelos piores criminosos em atividade no país.

Não é possível compreender absurdos como este proposto pela deputada psolista. Chegamos a duvidar que não exista um interesse oculto, um comprometimento, ainda que apenas ideológico, de toda uma ala política. E se esse for o caso, que Deus tenha misericórdia de nosso país.

REFERÊNCIAS

1Deputada do PSOL propõe projeto proibindo uso de drones e helicopteros em operações da Polícia – https://www.folhadoestado.com.br/colunistas/coluna-esplanada/deputada-do-psol-propoe-projeto-proibindo-uso-de-drones-e-helicopteros-em-operacoes-da-policia/626499

2Crime organizado: 23 milhões de pessoas estão em áreas dominadas por 72 facções e milícias – https://www.gazetadopovo.com.br/republica/crime-organizado-23-milhoes-de-pessoas-estao-em-areas-dominadas-por-72-faccoes-e-milicias/

3Talíria Petrone apresenta projeto que veta uso de aeronaves para disparos de armas de fogo – https://psol50.org.br/taliria-petrone-psol-apresenta-projeto-que-veta-uso-de-aeronaves-para-disparos-de-armas-de-fogo/

4Crime organizado se espalha pela economia e fatura R$ 350 bi em três anos – https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/crime-organizado-se-espalha-pela-economia-e-fatura-r-350-bi-em-tres-anos/

5Crime organizado brasileiro fatura R$ 146 bi em um ano no Brasil, diz Fórum de Segurança – https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/crime-organizado-brasileiro-fatura-r-146-bi-em-um-ano-no-brasil-diz-forum-de-seguranca/

6Homicídios e disputas territoriais nas favelas do Rio de Janeiro – https://www.scielo.br/j/rsp/a/J3RVPDrhX8QLnGMSHMfP6cD/?format=html&lang=pt

7Polícia retirou mais de 7 mil toneladas de barricadas nas comunidades do RJ em 2024 – https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/01/16/policia-retirou-mais-de-7-mil-toneladas-de-barricadas-nas-comunidades-do-rj-em-2024.ghtml?

8ADPF 635 – https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5816502

9RELATÓRIO GT/CNJ ADPF 635 – https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2024/04/relatorio-gt-cnj-adpf-635.pdf

10Criminosos usam drones rudimentares do início da guerra na Ucrânia para “explodir” rivais no Rio – https://www.gazetadopovo.com.br/republica/criminosos-usam-drones-rudimentares-do-inicio-da-guerra-na-ucrania-para-explodir-rivais-no-rio/

11Traficantes usam drones para monitorar operação da PM na Serrinha, em Madureira – https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/01/09/traficantes-usam-drones-para-monitorar-operacao-da-pm-na-serrinha-em-madureira.ghtml

12Deputada do PSOL propõe projeto proibindo uso de drones e helicopteros em operações da Polícia – https://www.folhadoestado.com.br/colunistas/coluna-esplanada/deputada-do-psol-propoe-projeto-proibindo-uso-de-drones-e-helicopteros-em-operacoes-da-policia/626499

13Crime organizado: 23 milhões de pessoas estão em áreas dominadas por 72 facções e milícias – https://www.gazetadopovo.com.br/republica/crime-organizado-23-milhoes-de-pessoas-estao-em-areas-dominadas-por-72-faccoes-e-milicias/