Por: Luiz Fernando Ramos Aguiar

A operação Tacitus, promovida pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP), deflagrada em 17 de dezembro de 2024, resultou na prisão de sete pessoas, incluindo um delegado e três investigadores da Polícia Civil. A ação investigava uma rede de corrupção envolvendo agentes públicos que atuavam protegendo os interesses do Primeiro Comando da Capital (PCC). As prisões só foram possíveis graças à delação premiada de Vinícius Gritzbach, empresário do setor imobiliário, que foi executado a tiros no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em novembro.

A consolidação do PCC como uma das maiores e mais influentes facções criminosas do país só foi possível devido ao apoio de agentes públicos em diversas instâncias do governo, entre elas, as forças de segurança. Operações como esta são fundamentais para desarticular as redes de apoio dessas máfias, impedindo que seus membros continuem agindo impunemente, causando prejuízo financeiro às organizações criminosas e reduzindo seu poder. Assim, cria-se a oportunidade para que lideranças e integrantes importantes sejam presos e condenados.

A operação levanta questões importantes sobre a expansão dos tentáculos das quadrilhas dentro das estruturas do Estado. Se as forças criminosas conseguem cooptar agentes das forças policiais, podemos considerar que sua influência criminosa também está presente em outras estruturas do sistema de persecução penal, e a prisão de policiais pode ser apenas a ponta do iceberg.

O Caso de Vinícius Gritzbach

Gritzbach

Gritzbach foi obrigado a fazer uma delação premiada após ser acusado de ser o mandante da morte de dois membros do PCC e entrar na lista de jurados de morte da facção. O delator acabou sendo assassinado em 8 de novembro de 2024, pouco tempo depois de concretizar sua delação à Corregedoria da Polícia Civil. Em seu depoimento, ele apontou a participação de policiais em esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro que beneficiariam o PCC. Uma das denúncias feitas pelo empresário em sua delação foi que policiais civis exigiram R$ 40 milhões para encerrar uma investigação contra ele, mas o valor nunca foi pago.

Antes de sua execução, Gritzbach apontou vários integrantes da Polícia Civil como envolvidos em atividades ilícitas, entre eles o delegado Fábio Baena e os investigadores Eduardo Lopes Monteiro e Marcelo Marques de Souza. A colaboração de Gritzbach também revelou o envolvimento de empresários e advogados em um esquema de lavagem de dinheiro em benefício do PCC. Uma evidência da força da organização é sua influência não apenas nas forças policiais, mas também em estratégias que demonstram como o PCC tem adquirido, de forma progressiva, características das máfias tradicionais, utilizando negócios lícitos, profissionais respeitados e empresas — de fachada ou não — para dar suporte e aparência de legalidade às suas operações.

As Prisões

A operação Tacitus levou à prisão dos seguintes acusados:

Fábio Baena (delegado): Baena foi acusado de extorquir Gritzbach e de se envolver na subtração de relógios de luxo e na apropriação ilegal de um sítio. Segundo a delação de Gritzbach, ele teria exigido propina para manipular investigações, incluindo o caso onde o delator era acusado de ser o mandante de dois membros do PCC.

Eduardo Lopes Monteiro (investigador): Ele teria extorquido outros membros da facção para evitar prisões e estaria envolvido na manipulação de investigações relacionadas ao PCC.

Marcelo Marques de Souza (investigador): Conhecido como “Bombom”, também foi mencionado no depoimento de Gritzbach. O investigador foi acusado de ter um patrimônio incompatível com sua renda como policial, e estar envolvido com transações financeiras suspeitas. No desenrolar da operação, foram apreendidos R$ 620 mil, US$ 1 mil e 1,5 mil euros na casa do policial civil.

Outros presos na operação foram Ahmed Hassan Saleh, advogado conhecido pela alcunha de “Mudi”, acusado de lavar dinheiro para a facção e de ter recebido R$ 400 mil do “alto escalão do PCC” para influenciar eleições municipais em São Paulo; Robinson Granger de Moura, empresário conhecido como “Molly”, preso por atuar na lavagem de dinheiro para o crime organizado; e Ademir Pereira de Andrade, apontado como um agente financeiro da facção. Outro acusado de fazer parte do esquema criminoso é Rogério de Almeida Felício, que, por enquanto, está foragido, mas também é alvo da operação.

Apreensões e Movimentações Financeiras Suspeitas

Na execução da operação, foram apreendidos bens de alto valor, como armas, munições, joias, carros de luxo e até uma lancha. A Polícia Federal ainda identificou movimentações financeiras incompatíveis com a renda dos suspeitos, principalmente compras realizadas em nome de “laranjas”, o que dificulta o rastreamento do dinheiro obtido de forma ilícita.

De acordo com os investigadores a organização criminosa teria realizado movimentações financeiras de R$ 100 milhões desde 2018, com a participação dos agentes públicos envolvidos. A operação atingiu várias cidades do estado de São Paulo, incluindo a capital e cidades como Bragança Paulista, Igaratá e Ubatuba.

Acusações e Possíveis Penas

Os presos na operação são acusados de crimes graves, como organização criminosa, corrupção ativa e passiva, e ocultação de capitais, com penas que podem somar até 30 anos de reclusão. Novas prisões e acusados ainda podem surgir, já que as investigações estão em andamento.

O principal objetivo da operação Tacitus é desarticular a rede de corrupção dentro da Polícia Civil, desestabilizando o vínculo entre agentes públicos e facções criminosas como o PCC. A Corregedoria da Polícia Civil também tem colaborado com a Polícia Federal e o Ministério Público na investigação, que já expôs um esquema de lavagem de dinheiro e manipulação de investigações, com consequências diretas para a segurança pública no estado de São Paulo.

Reações das Defesas

A defesa de Baena e Monteiro nega as acusações, classificando as prisões como “arbitrárias e midiáticas”. Os advogados dos acusados afirmam que seus clientes colaboraram com as investigações e nunca obstruíram os processos. A defesa de outros envolvidos, como o advogado Ahmed Saleh

A Operação Tacitus representa um marco no combate à corrupção policial, destacando a parceria entre as forças de segurança e o Ministério Público para desmantelar organizações criminosas e restaurar a confiança nas instituições.

Conclusão

A desarticulação de organizações criminosas como o PCC passa, necessariamente, pela identificação e rompimento dos vínculos dessas facções com agentes do Estado. Operações como esta podem ter um grande impacto nos negócios criminosos, impedindo a realização de operações financeiras ilícitas, a manipulação de investigações policiais e o exercício de influência sobre determinadas regiões ou núcleos de agentes públicos e privados.

Além disso, estratégias como a delação premiada podem acelerar a exposição de atividades, redes e agentes envolvidos com a organização, reduzindo os prejuízos sociais, econômicos e políticos provocados pelas atividades das organizações criminosas. Entretanto, os agentes envolvidos nesse tipo de operação precisam estar atentos às retaliações das quadrilhas, como ocorreu no caso do empresário Gritzbach, que acabou perdendo a vida ao denunciar o esquema do PCC.

O enfrentamento ao crime organizado exige ações arriscadas. Mesmo com investigações e o uso da inteligência, não é possível excluir a possibilidade de as forças criminosas utilizarem seu poder bélico para tentar intimidar ou eliminar agentes públicos, testemunhas ou delatores que estejam criando obstáculos às suas operações criminosas.

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Com informações de:

Preso, chefe de núcleo que investiga o PCC tinha R$ 200 mil em casa https://www.metropoles.com/sao-paulo/preso-chefe-de-nucleo-que-investiga-o-pcc-tinha-r-200-mil-em-casa

PF: Policiais delatados por Gritzbach tinham vida financeira incompatívelhttps://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/12/17/policiais-ligados-ao-pcc-tinham-vida-financeira-incompativel-diz-pf.htm

Operação contra policiais suspeitos de envolvimento com o PCC: quem são os presos, do que são acusados e o que foi apreendido https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2024/12/18/operacao-contra-policiais-suspeitos-de-envolvimento-com-o-pcc-quem-sao-os-presos-do-que-sao-acusados-e-o-que-foi-apreendido.ghtml

Operação da PF prende delegado e investigadores denunciados por delator do PCC –https://jovempan.com.br/noticias/brasil/operacao-da-pf-prende-prende-delegado-e-investigadores-denunciados-por-delator-do-pcc.html