A Polícia Civil de São Paulo investiga um esquema que movimentou aproximadamente R$ 8 bilhões, vinculado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e ao banco digital 4TBank. Essa fintech, segundo a polícia, foi utilizada para financiar campanhas políticas e lavar dinheiro oriundo de atividades ilícitas, alimentando o crime organizado.

No segundo turno das eleições deste ano, o governador Tarcísio de Freitas informou que enviaria ao Ministério Público cartas atribuídas ao PCC, incentivando familiares de membros a apoiarem Guilherme Boulos para a prefeitura. Entretanto, não há evidências ligando essa orientação ao financiamento de Boulos, e os candidatos favorecidos pela facção, em sua maioria, estão associados a partidos de centro, concorrendo principalmente a cargos de vereador.

As investigações sobre o esquema financeiro do PCC começaram em agosto de 2023, com a prisão de uma mulher suspeita de integrar a organização. Esposa de um líder preso há mais de duas décadas, ela teria assumido a coordenação das operações. Durante a investigação, foram encontrados registros de conversas e instruções sobre financiamento político e apadrinhamento. A polícia também encontrou cartas do marido, escritas da prisão, detalhando candidatos que deveriam receber recursos, abrangendo várias cidades do estado de São Paulo.

João Gabriel Yamawaki, primo do líder preso e apontado como operador do 4TBank, é considerado membro oficial do PCC e possui experiência em transações financeiras e políticas. Ele foi detido em agosto de 2023. O delegado Fabrício Intelizano informou que o valor de R$ 8 bilhões corresponde aos bloqueios solicitados pela polícia. Segundo o especialista em segurança pública Sérgio Leonardo Gomes, o objetivo do PCC não é controlar o Estado, mas garantir vantagens econômicas, com acesso a contratos e licitações públicas.

Além de recursos para campanhas políticas, o banco do PCC financiava a compra de drogas no Paraguai. Parte das contas do banco era usada para transações internacionais de entorpecentes, enquanto a criação do 4TBank, há cinco anos, parece ter tido como pilar o financiamento político. As investigações ainda verificam o quanto foi destinado a campanhas eleitorais e se os candidatos apoiados foram eleitos.

A 4TBank operou sem licença do Banco Central, movendo bilhões sem alertar as autoridades. O analista financeiro Marcelo Dias considerou a omissão preocupante, uma vez que grandes movimentações passaram despercebidas. Em cinco anos, o banco digital movimentou R$ 100 milhões em saques, e R$ 600 milhões em transferências, incluindo operações entre empresas suspeitas de envolvimento com o PCC. A polícia também identificou uma empresa com sede em Palmas, Tocantins, associada ao esquema e possivelmente ligada a “laranjas”, ampliando a rede de empresas de fachada que facilitava as transações criminosas.